segunda-feira, 25 de março de 2013

Tempero, alma e samba

Tempero, alma e samba
por Cristiane Damacena
http://www.brasiliagenda.com.br/entrevistas/alex-souza/


O brilho no olhar e o sorriso largo dão indícios do momento vivido por Alex Souza. O ator, músico e cantor brasiliense lança no próximo dia 02 de abril, às 21h, no Clube do Choro, seu segundo CD, Capricha na pimentaBrilho no olhar é também o nome da primeira canção deste álbum de samba que, nas palavras de Alex, “é uma celebração entre amigos feito sempre na companhia de boa comida.”
A comida, nas letras e no título do disco, é parte da história de Alex que, desde muito cedo, mostra afinidade com a gastronomia. Foram as feiras, os mercadões, as cozinhas, os restaurantes e os bares onde esteve que inspiraram o trabalho Capricha na pimenta. “A pimenta é pra realçar o sabor. Não pode ser colocada em exagero e em pouca quantidade não faz o efeito esperado. Tem que ser na medida certa”, explica. O capricho, referenciado por Alex, pode ser notado nas composições das nove faixas do disco. A poesia, a simplicidade e o cotidiano são traços das canções, em sua maioria, compostas pelo artista que teve como parceiro Fábio Luna em uma das faixas, A palavra.
Neste novo disco participam os amigos, como chama Alex, Henrique Neto, Rafael dos Anjos, Marcio Marinho, Juninho Ferreira, Dudu Sete Cordas, Vinicius Magalhães, George Lacerda, Juninho Alvarenga, Thiago Viegas, Roberto Mendes e Bruno Patrício. O show de lançamento terá todo o repertório do novo álbum, duas músicas inéditas e homenagens à artistas consagradas na música brasileira. O cantor irá interpretar Quem te viu, quem te vê, de Chico Buarque, Conversa de botequim, de Noel Rosa, Camisa listrada, de Assis Valente e, em contribuição ao projeto Tributo a Baden Powell do Clube do Choro, a canção Deixa, de Baden Powell. A surpresa da apresentação será a participação de Fábio Luna cantando sua composição Ser feliz, sucesso nos shows do Caraivana, banda que Alex e Fábio também integram.
Com o apoio cultural que recebeu, Alex lançou seu primeiro álbum em 2006, intitulado Brincando de subir. O nome faz referência a ideia de acensão social, “subir na vida” como ele mesmo disse. O trabalho atual, totalmente independente, transmite a dedicação do artista. “Por ser um trabalho sem incentivo, foi maravilhoso, feito com professores, verdadeiros mestres, do Clube do Choro. O trabalho ficou tão visceral que, ao ouvir, acham que foi gravado ao vivo, pelo sentimento que transmite”, conta.
Dez perguntas para Alex Souza

Gastronomia dá samba?
São duas coisas separadas que andam juntas. Tenho um gosto por gastronomia. Os temperos, as cores, a fotografia da comida. É bem difícil fazer samba sem trazer o sabor (risos). Gosto da gastronomia popular, da comida de boteco, das coisas que são espontâneas. Não ter lugar e nem hora marcada. O samba tem isso. Cabe em qualquer lugar. A gastronomia tem que estar junto.

Você sabe cozinhar? O que você faz na cozinha?
As reuniões familiares sempre acabam na cozinha, com música é claro! Eu cresci nesse ambiente, é uma alquimia que está relacionada à minha infância. É um costume que vem de muito cedo, de gostar de mercado, de feira… Aqui em Brasília mercado é algo incomum. Mas eu sempre gostei dessa atmosfera. Gosto de cozinhar frutos do mar.

Como foi o processo de criação desse álbum?
Eu escrevo muito. Para o teatro e quando solicitado por amigos, então o processo da escrita se torna natural. As letras desse disco foram feitas em vários momentos e a gravação também teve essa espontaneidade.  Eu consegui unir uma turma boa e cada dia de gravação sempre acabava em comida. Tudo foi feito em clima de celebração. Acaba a gravação e a gente se perguntava aonde íamos, o que íamos comer e beber. O disco foi feito assim: comendo com os amigos (risos). O nome Capricha na pimenta surgiu disso. A pimenta é pra realçar o sabor. Não pode ser colocada em exagero e em pouca quantidade não faz o efeito esperado. Tem que ser na medida certa. É o capricho nos temperos e a pimenta tem esse carinho. É a busca pelo tempero que falta, como está na música, o tempero que falta é o da mulher amada.

Qual é a sua canção preferida neste disco?
Puxa… (pausa) São todos filhos distintos, mas eu destaco a música Obrigado meu pai. Foi uma canção que fiz em agradecimento ao meu pai, à vida, aos amigos. É uma música que fala da vida, fala das virtudes.

Quais são os artistas que você ouve?
A maior parte das referências que tenho eu carrego há muito tempo. Da turma que ainda tá por aí tem Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento, Lô Borges, Tom Jobim… É, já comecei a falar dos que não estão por aqui (risos). Ouço Cartola, Pixinguinha e Assis Valente, este último tem um legado de músicas que o público ouve e canta, mas não tem seu trabalho reconhecido. “Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel”, essa música é dele.

Você vem de uma família que gosta de arte e faz arte. Quando foi o momento que você decidiu por esta carreira?
O meu irmão, Paulo César, e eu temos a diferença de 15 anos de idade. Lembro de mim moleque o vendo cantar, tocar, fazer música. Posso dizer que a música surgiu pra mim aos nove anos de idade. Minha estréia nos palcos foi aos 14 anos, no Festival do Fico, que era promovido pelo colégio Objetivo. Venci este festival e fui pra São Paulo participar do festival nacional, onde fui premiado com o terceiro lugar. Foi o momento marcante que me fez ver que o que eu queria era fazer arte.

Este segundo álbum, Capricha na pimenta, mostra um artista distinto do primeiro disco, Brincando de subir. Qual é a mensagem diferente que o samba trás?
O samba esta aí pra gente cantar tristeza com alegria. É o que me envolve. A mistura de classe. O samba você tá de chinelo ou de sapato. Calçado ou descalço. O samba é em roda para que todos se vejam. Estou vivendo esse momento do samba.

Como surgiu a ideia do do clipe de Capricha na pimenta?
O clipe surgiu da ideia de estimular os sentidos também visualmente. Eu gravei as cenas pelo celular nos bares e restaurantes que frequento. Com a edição aquele foi o resultado. A ideia era criar um clipe que fosse sensorial!
Quais são os projetos pra 2013?

A ideia é viajar com o show no formato que será apresentado no lançamento, no Clube do Choro. A gente sabe que é difícil, adaptações são sempre necessárias, mas a ideia é que o show seja exatamente esse. A banda Caraivana está com um novo trabalho e a gente vai viajar pelo país em turnê de divulgação.

E os projetos para o futuro?
Meu sonho é ter um programa de gastronomia e música. É um projeto que eu carrego comigo e que ainda vou desenvolver. Sabe aquele lance de entrar na casa das pessoas, abrir a geladeira e cozinhar com o que houver disponível? Um queijo e um pão se tornarem uma torrada com queijo derretido, com aroma e sabor. Com muita música! Sempre quis fazer algo assim. Tem receitas que a minha avó faz há muito tempo. A cozinha é um grande espaço aberto à criatividade.

Lançamento do CD Capricha na Pimenta
Data: Terça (02/04), às 21h.
Local: Clube do Choro (SDC, Bl G, Eixo Monumental).
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia).
Informações: (61) 3225-2761.
Classificação indicativa livre.